Não faz muito tempo e estava sentado em frente ao computador, assistindo às vídeo-aulas da faculdade de Ciências Contábeis. Muitas vídeo-aulas, na verdade. Umas cinco horas.
Levantei-me e notei que dois dedos da mão esquerda estavam dormentes. Chacoalhei a mão e nada. Abri e fechei-a freneticamente, nada.
Pensei: amanhã passa. O amanhã veio, a dor não se foi.
Não sou de ir ao médico. Não quero sermões. (risos).
Mas essa dor me mostrou algumas coisas que resolvi compartilhar:
Nós nem notamos que temos um corpo, no dia a dia. Você lembra do seu joelho? Seu calcanhar?
A engrenagem funciona e nem nos damos conta. A não ser que...
A não ser aconteçam duas coisas: contato.
Quando recebemos carinho ou quando o corpo dói, a gente lembra que as partes existem.
Você esquece que tem axila até que receba cócegas nela. (Eu, pelo menos!)
Você nem se lembra do cabelo até que ganhe um cafuné.
O carinho nos faz lembrar que o corpo está ali, vivo, com sangue correndo nas veias.
Outra coisa que nos faz lembrar que temos partes, membros superiores, inferiores, são as dores.
Sua cabeça existe e você nem nota, mas espere só a enxaqueca chegar!
Seus dedos funcionam numa boa, mas uma farpa chega e muda até sua rotina!!
Assim é com nosso corpo, assim é com nossos relacionamentos.
Frugal dizer, mas só damos valor quando perdemos.
E meus dedos estão aqui, dormentes. Como muita coisa em minha vida. Sonhos, aspirações...estavam normalmente transitando em minha alma, porém o tempo foi anestesiando, anestesiando...e hoje sinto falta.
Meus dedos me fizeram notar que a vida ocorre no Hoje, que não posso viver num passado que foi bom ou num futuro incerto. Não tenho a ampulheta da Vida! O Kronos não me passou procuração!
Hoje são meus dedos, amanhã o que mais? Um acidente de carro? Incêndio? Perda de um ente querido?
Preciso mudar minha disposição emocional, preciso fazer esse exercício (com muita luta interna) de acreditar que a vida longa é um blefe, que preciso amar HOJE, cuidar HOJE, desenterrar sonhos HOJE, porque precisamos do outro, e o outro precisa da gente. Desperdiçar a vida, além de burrice, é falta de empatia. Não nos damos conta que nosso ostracismo não aniquila somente a nós mesmos, mas a quem nos cerca também.
Talvez eu vá ao médico. Se você comentar sermões eu desistirei. (risos).
Mas essa nem é a questão! Na verdade, preciso de um relojoeiro, pra consertar esse tempo que tão infantilmente tento domar.
Desejo o mesmo pra você!
Ah Marcio... temos tanto pra conversar!
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