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domingo, 18 de setembro de 2016

Perdoem-me os espertos, mas o mundo é dos bobos!

Começo esse texto com um fragmento retirado da Wikipédia que sintetiza quem era o bobo da corte, na Idade Média:

"O bobo da corte, mais conhecido como servo-sião divertia o rei e os áulicos. Declamava poesias, dançava, tocava algum instrumento e era o cerimoniário das festas. De maneira geral era inteligente, atrevido e sagaz. Dizia o que o povo gostaria de dizer ao rei e zombava da corte. Com ironia mostrava as duas faces da realidade, revelando as discordâncias íntimas e expondo as ambições do rei."

Você já se sentiu deslocado (a), não pertencente a um grupo, um "peixe fora d'água", apenas por acreditar em certos valores que hoje não são aprecidados (não como outrora) pela sociedade?

Já abriu a boca para emitir uma opinião e teve de volta uns narizes torcidos e olhares desconfiados?

Já flamulou a bandeira da ética e ficou conhecido (a) como moralista, velho, chato (a), "quer mudar o mundo" etc?

Se suas respostas às questões acima foram um sonoro SIM!, esse texto é pra você, BOBÃO E BOBONA! 

Lá no início, eu trouxe à baila o significado do função do bobo da corte, e esse termo sempre fora usado em tom pejorativo, como alguém ingênuo, besta, burro, idiota, sem noção,  trouxa e por aí vai...mas, a partir de hoje, você vai se olhar no espelho e quase que vislumbrar aquelas fantasias exageradas, chapéus engraçados e vai dizer a si mesmo (a): SOU UM PERFEITO BOBO DA CORTE! 

Explico:   Os bobos acreditam em dias melhores. Pouca gente sabe, mas por trás da maquiagem há cicatrizes e lágrimas, contidas ou não, que fazem o bobo ser mais resiliente. 

Os bobos não são meros otimistas, nem se reduzem a serem realistas. São esperançosos, o que é bem diferente. Sabem que o fracasso existe e vem quando menos se espera (aliás, ele desconfia quando tudo vai indo bem, obrigado), mas não deixam de sonhar e transparecerem seus ideais.
Os bobos se importam! Num mundo onde o "esperto" ama às prestações, finge não estar apaixonado (a) para não ser presa do outro, o bobo vai lá e se entrega. Pula primeiro e confere o paraquedas depois. Como diz a molecada de hoje: "trouxa fazendo trouxisse".
E por se importarem de verdade, sofrem! Não porque são franciscanos, mas gostariam que sua doação de tempo, ombro, suor, ouvido etc, reverberasse em solução ou, no mínimo, que amenizasse a dor do próximo.
Os bobos não economizam de si em favor do outro. Se é para perguntar "vai tudo bem?", é porque quer saber detalhes, não mera formalidade. O bobo liga, manda email, procura, visualiza e responde assim que possível e não faz o joguinho do "se eu correr atrás, vou comer na mão dele (a)!". O bobo, na verdade, é um empático-compulsivo. Quando vê, já está se importando!
Os bobos expõem a sociedade e o poder constituído, pelo jeito "bobo" de criticar, de gritar que algo está errado, ele passa despercebido de alguns desavisados, mas outros acabam entendendo o recado.
Sabe aquele (a) amigo (a) que faz piada com minorias e vulneráveis por que "todo mundo ri"? O bobo da corte não, ele permanece inerte, e devolve com outra piada, com a ironia socrática, e o "esperto" ri junto, sem perceber que foi exposto. Bobos sabem questionar com a acidez própria dos que têm senso crítico apurado. Seu recado não é pra muita gente, mas quem ouve e "saca", dificilmente esquece.
Os bobos amam! Por conhecerem suas fraquezas, procuram amar as limitações do outro. Eu disse "procuram", porque nem sempre conseguem. Mas tentam. Bobos gostam das peculiaridades que tornam seu (a) parceiro (a) único. Bobos procuram (de novo ), amar o que o (a) parceiro (a) tenta esconder, por vergonha,  complexo etc. Bobos são craques nisso: extrair o melhor das pessoas. Fazê-las enxergar que elas são para além delas mesmas.
Bobos são práticos. Seja num cafuné, no preparo de um chá, uma canja, um Tylenol, uma massagem, um silêncio, um colo, eles estão de prontidão. O bobo só não gosta de se sentir inútil. Ele chega a incomodar pelo tanto que estende a mão. É isso! Bobos incomodam!
Bobos incomodam porque jogam luz numa sociedade superficial,  amarga, individualista, egocêntrica, triste, vazia, sem significado, sem ideais nobres. O bobo elucida que as pessoas só precisam ser ouvidas, e se importar hoje é sinônimo de importunar.
O bobo sofre, mas é obstinado.
Bobos não se vendem como perfeitos. Num mundo onde dizer suas fraquezas é pedir para ser pisoteado, o bobo não só as reconhece, como pontua cada uma. O esperto se esquiva e raramente muda de opinião.  O bobo faz autocrítica e sopesa suas crenças na balança da empatia. Os bobos se importam SIM com o que pensam sobre ele, desde que sejam pessoas que o conhecem e o amam apesar dele.

O bobo não precisa diminuir ninguém para ser grande. O que torna o bobo grande é saber que sua insignificância é encantadora, posto que é sincera, ética, e essa pequenez o faz nobre. Ele faz a vez do rei, que julga ser esperto.

Quer mudar o mundo? Comece por si mesmo (a), sendo bobo (a)!
Já temos "espertos" demais e não tem dado certo.

Abraços! Há braços!


sexta-feira, 1 de julho de 2016

Esvaziando-se

"Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente."
 William Shakespeare

*Recebi esse texto de um amigo e resolvi compartilhar.


Num dia você acorda, mesma rotina. Uma passada de água na xícara de ontem, para tomar um café. De ontem também. Requentado. Como seus sonhos. 
Senta-se na cadeira barata, desconfortável. Imagina desenhos na parede branca. Observa o relógio, que algoz, decide não ter pressa. Folheia um livro em qualquer página, um informativo de mercado, um jornal velho. Buscando novidades de uma vida que se vai. 
Escova os dentes. Olha no espelho. Olhos distantes, evitam fitar-se. Você foge do flerte da solidão. Não se encara, não consegue. Cabelo emaranhado, talvez apenas mais arrumado que seus planos. Então você põe aquela roupa que deixara num canto ontem, põe a fantasia da adequação social, a maquiagem do "vou indo" e sai. Não quer sair, mas também não quer voltar. 
Observa o trânsito. Calcula mentalmente a distância do carro e do tempo que você levaria pulando na frente dele. E se não morrer? - Covarde! Nem para isso serve!! - grita seus pensamentos. 
Acena para conhecidos. O Sol da manhã combinando com o amarelo do sorriso. Chega ao trabalho. Acena com a cabeça e vai para o esconderijo (ou mesa, como queiram). Carimba, atende telefone, carimba, lê e-mails. O relógio, de novo, andando como bem entende: no almoço, voa, no expediente, trota. 
O dia chega ao fim (e você pensa: bem que poderia ser o fim do meu expediente vital também!). 
Chega no outro esconderijo, que um dia foi casa. Guarda a fantasia da adequação, limpa a maquiagem do "vou dar um jeito". Requenta um arroz. Joga qualquer coisa em cima para parecer mistura. Zapeia as redes sociais procurando um tempo perdido. Mais rede que social. Mais teia de aranha que rede. Aperta F5. Uma, duas, dez vezes. Abre a fecha o whatsapp querendo ouvir alguém, querendo se encontrar. 

Toma um banho, esperando que a água solva as dores. Encosta na parede e percebe que no rosto escorre outro líquido além da água: um líquido mais quente, salgado, com cada vez mais razão de ser. Ou não.
Põe qualquer pano velho no corpo cansado e se joga na cama, torcendo para aquilo ser um caixão. Mas não é. E pior: não te faz repousar. Encara o teto alvo, um inseto mais corajoso que você se lança à lâmpada. Ele vai morrer em breve. E você? Você não. Precisa prosseguir. Esvaziar-se até as últimas consequências. Sentir o respirar da Solidão sentada à beira da cama. Aperta F5 de novo. Espia o celular. Nada. Apenas você e o "como sair disso tudo". 
Um rolo compressor de pensamentos e frustrações o faz rolar na cama.  

Travesseiro molhado de lágrimas, cochila, sabendo que acordará umas 5 vezes até que outro dia (infelizmente) recomece. 
Você sabe que não chegou ao fim, mas isso não o consola. Há muita bagagem dentro de você para ficar no caminho. Há muito que esvaziar-se, para que o novo te inunda. 

E é esse "novo" (aspas pelo desconhecimento), que o faz levantar outro dia. O mesmo café requentado, a mesma fantasia de adequação. Você não entende o porquê, só sabe que tem que perseverar, tem que esperançar. Em algum lugar você escuta que valerá a pena. Só precisa entender e aceitar o processo com maturidade e serenidade no coração.

Esvaziando-se.