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sexta-feira, 1 de julho de 2016

Esvaziando-se

"Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente."
 William Shakespeare

*Recebi esse texto de um amigo e resolvi compartilhar.


Num dia você acorda, mesma rotina. Uma passada de água na xícara de ontem, para tomar um café. De ontem também. Requentado. Como seus sonhos. 
Senta-se na cadeira barata, desconfortável. Imagina desenhos na parede branca. Observa o relógio, que algoz, decide não ter pressa. Folheia um livro em qualquer página, um informativo de mercado, um jornal velho. Buscando novidades de uma vida que se vai. 
Escova os dentes. Olha no espelho. Olhos distantes, evitam fitar-se. Você foge do flerte da solidão. Não se encara, não consegue. Cabelo emaranhado, talvez apenas mais arrumado que seus planos. Então você põe aquela roupa que deixara num canto ontem, põe a fantasia da adequação social, a maquiagem do "vou indo" e sai. Não quer sair, mas também não quer voltar. 
Observa o trânsito. Calcula mentalmente a distância do carro e do tempo que você levaria pulando na frente dele. E se não morrer? - Covarde! Nem para isso serve!! - grita seus pensamentos. 
Acena para conhecidos. O Sol da manhã combinando com o amarelo do sorriso. Chega ao trabalho. Acena com a cabeça e vai para o esconderijo (ou mesa, como queiram). Carimba, atende telefone, carimba, lê e-mails. O relógio, de novo, andando como bem entende: no almoço, voa, no expediente, trota. 
O dia chega ao fim (e você pensa: bem que poderia ser o fim do meu expediente vital também!). 
Chega no outro esconderijo, que um dia foi casa. Guarda a fantasia da adequação, limpa a maquiagem do "vou dar um jeito". Requenta um arroz. Joga qualquer coisa em cima para parecer mistura. Zapeia as redes sociais procurando um tempo perdido. Mais rede que social. Mais teia de aranha que rede. Aperta F5. Uma, duas, dez vezes. Abre a fecha o whatsapp querendo ouvir alguém, querendo se encontrar. 

Toma um banho, esperando que a água solva as dores. Encosta na parede e percebe que no rosto escorre outro líquido além da água: um líquido mais quente, salgado, com cada vez mais razão de ser. Ou não.
Põe qualquer pano velho no corpo cansado e se joga na cama, torcendo para aquilo ser um caixão. Mas não é. E pior: não te faz repousar. Encara o teto alvo, um inseto mais corajoso que você se lança à lâmpada. Ele vai morrer em breve. E você? Você não. Precisa prosseguir. Esvaziar-se até as últimas consequências. Sentir o respirar da Solidão sentada à beira da cama. Aperta F5 de novo. Espia o celular. Nada. Apenas você e o "como sair disso tudo". 
Um rolo compressor de pensamentos e frustrações o faz rolar na cama.  

Travesseiro molhado de lágrimas, cochila, sabendo que acordará umas 5 vezes até que outro dia (infelizmente) recomece. 
Você sabe que não chegou ao fim, mas isso não o consola. Há muita bagagem dentro de você para ficar no caminho. Há muito que esvaziar-se, para que o novo te inunda. 

E é esse "novo" (aspas pelo desconhecimento), que o faz levantar outro dia. O mesmo café requentado, a mesma fantasia de adequação. Você não entende o porquê, só sabe que tem que perseverar, tem que esperançar. Em algum lugar você escuta que valerá a pena. Só precisa entender e aceitar o processo com maturidade e serenidade no coração.

Esvaziando-se.

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