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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

"A hipocrisia é uma impostura refletida". Luc de Clapiers

A moral, os bons costumes e o teatro em tentar ser o que não se é. 

Lembro da minha adolescência no período escolar. Pensava que era o senhor do mundo. Sabia de tudo, ou melhor, fingia que sabia para fazer parte dos "descolados". Procurava levar vantagem, sobretudo contra os superiores (professoras, diretores). Cada vez que eu conseguia obter certa vantagem, pensava: Eu sou o centro! Eu engano o sistema!

Acontece que a vida vai trazendo, além da idade, bagagens. Umas leves, outras pesadas, mas as bagagens estão ali, dentro de nós, para fazer com que recordemos de quem somos e onde fomos.

Uma das coisas que eu mais gostava de fazer no ensino fundamental era colar. Nem tanto pela avaliação ser difícil (modéstia às favas, eu sempre tive notas boas), mas eu era motivado pelo poder que a cola traz. Vem aquela sensação de chamar tudo e todos de tolos, de relapsos em suas vigilâncias. É aquilo do "tudo o que é proibido, ou engorda, ou faz mal ou é pecado". Voltando às bagagens, uma delas foi me mostrando com o tempo que o tolo somos nós, que pensamos estar levando vantagem, todavia não nos damos conta que a cada "jeitinho" dado é um atestado de nossa incompetência em sermos melhores que fomos ontem e piores que amanhã.

Por que vim trazer esse assunto aqui no Blog? Um pouco fui movido pela tristeza, e um outro tanto pelo senso de justiça. Cada caractere digitado aqui é como se minh'alma tomasse um banho de luz. Explico:

Alguns de vocês devem saber (não lembro de ter comentado aqui), que faço faculdade de Direito. Estou indo para o 3º ano. Amo demais essa Ciência, embora às vezes esse amor não se converta em boas notas, principalmente na Disciplina que será objeto desse relato: Direito Penal.

Como eu adoraria gabaritar nessa Disciplina!! Primeiro por satisfação pessoal, depois pela Professora que, a despeito dos desentendimentos, considero alguém apaixonada pelo que faz e consegue transmitir o que sabe sem prepotência. A minha tristeza é também não devolver em notas (apesar que acredito que nota não afere conhecimento), o que ela tão apaixonadamente leciona.

Pois bem, uma das coisas que mais me deixou feliz foi saber que sobre alguns assuntos relativos ao sistema prisional brasileiro, que as desigualdades sociais e regionais são fatores sim a serem considerados para se compreender o crime, que a punição em si só não tem base científica nem biológica que corrobore sua prática como diminuidora de ilícitos, que devemos trabalhar a causa e não os efeitos, enfim, assuntos para outras postagens que oportunamente o farei com prazer.

Esses assuntos nem de longe são unânimes na sala de aula. Infelizmente ainda ouvimos de ACADÊMICOS que "bandido bom é bandido morto", "gosta de bandido, então leva pra casa", e outros chavões engendrados pelo senso rasteiro fomentado pela opinião publicada, o que traz à sala discussões acaloradas, partindo às vezes até para o ad hominem.
Minha Professora de Direito Penal, além de muito estudo (o que nem sempre quer dizer sabedoria), tem um histórico voltado para a compreensão do crime. Ela sim tem contato com crime, eu não. Falo do que leio e vejo, humildemente reconheço isso. Porém não sou deslegitimado  a opinar só porque não "vivo no crime", apenas formulei meus conceitos lendo bastante sobre o assunto e notando que algo está errado, e isso não precisa ser PhD, aliás, nem se precisa estar numa cadeira acadêmica para perceber que quanto mais presídios se constroem, mais o crime aumenta. Estamos falhando em algum ponto dessa meada, mas como disse anteriormente, é assunto para outro dia. O que quero trazer aqui é um episódio que me entristeceu, mas ao mesmo tempo respirei aliviado por saber que estou numa sala com mortais, gente tão suja quanto eu ou quanto os governantes que eles tantos adoram cobrar probidade:

Numa das avaliações a Professora autorizou usar o Vade Mecum, mas enfatizou: Sem comentários, nem de autores nem os próprios. No máximo, pequenas notas nos artigos.

Tal foi a surpresa quando alguém na sala levantou a suspeita de que muitos alunos teriam passado todo o conteúdo de aula para as páginas em branco do referido livro, e isso, claro, causou decepção na Professora, que passou "revistando" Código por Código, mas nem precisou andar muita na sala: enquanto estava na primeira fileira, alunos de outras filas corriam desesperados tentando apagar as "provas dos seus delitos", rasgando folhas, apagando correndo o conteúdo transcrito. Qual a postura da Professora? Mandou que todos fechassem o Vade Mecum e avisou que enquanto ela lecionar pra gente, a consulta estaria vedada.

Talvez a Professora nem tenha percebido, mas eu não deixei de notar, (e aqui preciso fazer uma consideração importantíssima: nunca me coloquei como a corporificação da ética, mas nunca também tentei vender aquilo além de quem sou). Sou uma pessoa cheia de dilemas, pecados escondidos e neuras, mas sempre desconfiei de discursos morais demais, santos demais.

E essa minha desconfiança se comprovou quando ci que aqueles que foram pegos colando, ou que eu observava apagando a cola do Vade Mecum, são os mesmos que pedem a cabeça da Dilma, que falam em Mensalão, que repercutem o discursos "rachelsheherazadiano" do "amarre no poste, está no crime porque quer".

Aí fico me perguntando: são esses(as) alunos(as) que defenderão pessoas em breve? São esses profissionais que mudarão rumos de vida apenas com uma canetada?

Claro que essa é uma questão retórica, pois esses alunos também farão parte da política que tão veementemente reprovam.

Não estamos mais no Ensino Fundamental. Já não estamos mais na idade de pensarmos que levar vantagem é virtude. Não sei se muitos na sala notaram, mas ali é um lugar para se exercitar a reflexão. Que esse episódio sirva para refletirem que se bandido bom é bandido morto, colar é tão criminoso quanto furtar um toca-fitas de carro. Só não desejo o poste a eles, mas o arrependimento fruto dessa reflexão.
 




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