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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O rato roeu a roupa do Rinco: uma crônica de Rousseau até os dias atuais.

O rato roeu a roupa do Rinco: uma crônica de Rousseau até os dias atuais.


“Nada é tão admirável em política quanto uma memória curta.”
(John Kenneth Galbraith)

Preciso confessar: poucas coisas conseguem tirar meu sono. Moro contíguo a um pasto, mas o mugido bovino às madrugadas não me perturba. Minha filha me chuta à noite toda, mas durmo feito uma pedra. Dizem os meus próximos que se a cama for vendida e eu estiver em cima dela, talvez eu acorde somente dentro do caminhão.
Mas a política, essa tem conseguido. Acordo suado, ofegante. Como nos filmes de terror. Ora sou despertado pelos fantasmas do passado, como a frase de Rubens Ricúpero, sem saber que estava sendo gravado (lembram-se do escândalo das parabólicas?), que disse: “Não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde.”, ora desperto com os assombros atuais. E é desse que eu quero falar. Não que o passado não importa; pelo contrário. Até ressuscitei Rousseau. O presente é um desdobramento do passado, e se não tivermos cuidado, a engrenagem vai girar para o futuro, com consequências desastrosas.
Vou tentar, humildemente, resumir o pensamento de Rousseau, até porque, quem sou eu para lecionar Ciências Sociais! Aprendi que inteligência, influência e dinheiro, se você precisa mostrar que tem, é porque não tem. Mas peço a permissão dos graduados e experientes no assunto, para falar um pouco sobre O Contrato Social:
Rousseau acreditava que todo homem nasce bom e a sociedade o corrompia. Daí a necessidade de uma gerência superior, abstrata, fictícia. A essa “gerência” Rousseau denominou de “Contrato Social”.
Como funcionaria esse Contrato? Uma vez que o homem se visse corrompido, uma vez que ele se apercebesse que seus direitos estariam sendo lesados, ele invocava um “poder” meio que sobrenatural, para dirimir os conflitos. Nasce então a figura do Estado.
Rousseau chegou a dizer que o direito à propriedade só nasceu porque teve gente ingênua o bastante para acreditar num homem que cercou um pedaço de terra e chamou de seu. Concluiu: “Os frutos são de todos e a terra é de ninguém.” Utópico, concordo, mas tem lá seu fundamento.
Essa fica para outra prosa. Vamos voltar para o conceito de Estado em Rousseau. Falando em linguagem clara, se resolvêssemos desistir da gerência do Estado, estaríamos perdidos, uma vez que o Estado é a representação das “fatias” de quem somos e temos. Nossas liberdades, direitos e deveres estão todas lá, no Estado.
Sou estadista (essa polêmica fica pra outro dia), porque eu sei o quanto posso ser mal, cruel, mesquinho, egocêntrico. Preciso de leis e regras para viver, porque minha consciência já comeu a “fruta proibida” de viver em sociedade, de usar e ser usado, de romper relacionamentos por conveniência, por ausência de empatia. Enfim, sou humano.
A entrevista que Henrique Rinco concedeu à TV Vanguarda e à Rádio Capital poderiam “passar batidas”, só que Rinco foi além. Ele não emitiu apenas opiniões delirantes de uma direita envelhecida. Rinco cancelou o Contrato Social! Ao usar da lógica binária “esforço=sucesso”, ele se esqueceu (ou fez) que o PIB do mundo está nas mãos de 7% da população mundial, ou seja, 93% das 7 bilhões de pessoas no mundo inteiro não se esforçam o suficiente. Trazendo para Caçapava, todos os moradores do Pinus, Maria Elmira, Vila Paraíso etc., é um bando de vagabundo que se escora em políticas sociais do Estado. Os “esforçados” moram no Jataí, Jequitibá, Jardim Julieta etc. Essa é a lógica pobre de quem vê o pobre como produto da ausência do seu próprio suor, e não de um capitalismo que atropela tudo e todos que atrapalham seus “avanços”.
Rinco legitimou a ineficiência do Estado ao dizer que “o poder público não pode resolver todos os problemas do povo”. Mas quem disse TODOS, Prefeito? Quem precisa do Estado para esfregar as costas no banho, passar cuspe em joelho ralado e outras carícias da vida privada? Estamos falando em PODER PÚBLICO, Prefeito! Estamos falando em exigir DO ESTADO aquela parcela de direitos e liberdades que abrimos mão, para que tivéssemos o mínimo dos mínimos de nossa dignidade humana atendida. Está lá na Constituição, Prefeito! Artigo 5º, 6º, 70 dentre tantos.

Rinco não lê Rousseau, “malemá” (como diria minha avó italiana), lê o Jornal Simpatia. Sua fonte de pesquisa deve ser a Veja, onde certo colunista de nome Reinaldo Azevedo, disse que o povo “atrapalha a democracia, e que deveriam ser eliminados.” (VEJA Out/2009).
Ao dizer que “nunca precisou de serviços públicos”, Rinco escancarou um câncer que só o pobre sabe que existe: o Estado só serve como instrumento de dominação, onde o pobre “mendiga” atenção e o rico a distribui como lhe apraz.
Rousseau teria muito que ensinar a Henrique Rinco, mas talvez ele não queira ouvi-lo. Rousseau bem que poderia dizer ao nosso Prefeito:
- Ei, meu chapa! Você entendeu tudo errado!
Mas Rinco desdenharia.

 Estaria muito ocupado vomitando asneiras na “rádia”. 
Odorico Paraguaçú, o ator-político que encarnou políticos-atores.

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